Difícil fotografar o
silêncio.
Entretanto tentei. Eu
conto:
Madrugada, a minha aldeia estava morta. Não se via ou ouvia um barulho, ninguém
passava entre as casas. Eu estava saindo de uma festa
Eram quase quatro da manhã. Ia o
silêncio pela rua carregando um bêbado. Preparei minha máquina.
O silêncio era um
carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse
carregador.
Tive outras visões naquela madrugada. Preparei minha máquina de novo. Tinha um
perfume de jasmim no beiral do sobrado. Fotografei o perfume. Vi uma lesma
pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de
um mendigo. Fotografei o perdão. Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma
casa. Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre. Por
fim eu enxerguei a nuvem de calça.
Representou pra mim que ela andava
na aldeia de braços com maiakoviski – seu criador. Fotografei a nuvem de calça e o poeta. Ninguém outro
poeta no mundo faria uma roupa
Mais justa para cobrir sua noiva.
A foto saiu legal.