quarta-feira, 25 de março de 2015

Arnaldo Casser e Felipe Duarte Pinheiro
 
                                                                        Perfume
                                                                           

                                                                  Nuvem de calças


                                                                        Perdão


                                                                         Silêncio

                              
                                                                          Sobre

                                                       
                                                                       Existência
                                                                  


Gare Saint-Lazare

Por que não choveu
Ontem que eu não tinha
Lugar para ir?

Casal em Paris

Um lugar como outro qualquer
Tudo era irrelevante diante de nós
Um café, um passeio, a paisagem, o cenário perfeito para mais um encontro especial
Mas o protagonista era seu olhar radiante e seu sorriso estonteante
Despertava inveja nos racionais e hipnotizava o irracional
Um instante que se perdeu no tempo e no espaço
Perdeu-se para quem?
Para os figurantes desta cena, talvez
Porque eterno será na memória cada momento de contemplação do nosso amor
Até o último pulsar deste coração

terça-feira, 24 de março de 2015

Questão em torno do "livro do futuro".


Entendemos, sim, o catálogo do projeto “A Margem”, elaborado pelo coletivo Garapa, como uma possibilidade de representação da ideia de “livro do futuro”.  

Especialmente, porque ocupa um entrelugar¹ discursivo, isto é, trata-se de um material intertextualizado e, sobretudo, intermidiático, que não se filia nem ao universo ficcional de Bellatin (averso à escrita representativa e à necessidade de constituição de sentido), nem ao projeto de escrita de Bernardo Carvalho (narrativas fortemente influenciadas por dados do real, de teor jornalístico), embora carregue traços evidentes de ambos. O catálogo de "A Margem" tem características similares ao trabalho de Bellatin, por 
exemplo, pela fabulação e utilização das fotografias e ao trabalho de Carvalho, em que temos o arquivo real referente ao rio Tietê datadas dos séculos 18 e 19. 

O coletivo Garapa arma uma espécie de “cartografia afetiva de leitura” para remontar a história do rio Tietê, através de fotografias (novas e antigas), imagens de classificados de jornal, poemas e pequenas narrativas, além de um mini pantone, criado para representar a cor da água do rio em diferentes épocas, o catálogo constitui um verdadeiro “arquivo por vir”, uma memória movente, principalmente por se pautar em uma apreensão anacrônica do tempo, do histórico do rio. O modo de operação utilizado pelo coletivo neste projeto estabelece um diálogo efetivo e constante entre diversas linguagens artísticas, o que faz com que nossa atenção seja tomada para cada detalhe das páginas. Tudo isso sem anular a necessidade da escrita, ao contrário, aqui ela acolhe as outras linguagens como um suplemento.

1 – Neste caso, entende-se por entrelugar um interstício em que temos um domínio performático de negociação (entre múltiplas linguagens), produtor de figuras complexas de diferença e identidade, em que se concatenam passado e presente, interior e exterior, inclusão e exclusão.

sexta-feira, 20 de março de 2015

A existência.        
Sobre                                 
 O silêncio                       


Preparei a máquina.                                          






Gare Saint-Lazare


Um corpo-ampulheta no ar
O tempo lacrado do corpo
Miragem. Derrière. Jazz.


Efêmero.

Fugaz como beijo perdido no tempo impreciso das ruas, um beijo esquecido no café labirinto, passagem e destino de desejos mentidos. Uma boca e a sua, a espera, o desejo
e o esquecimento.



quarta-feira, 18 de março de 2015

Casal em Paris 1968



Para beijar no bar
onde eles colocam a mão?

Ela se debruça sobre o prato
dobra os cotovelos, torce o punho,
a mão entre a barriga e a mesa e...

E ele?
Se prepara com um sorriso,
gira um pouco o corpo
A mão se escora no joelho e...

E o cão?
levanta o pescoço
vira o olho pra cima
cerra as patas no chão e...

Ah! É que entre o prato, a mesa
e os talheres tem um cão!

E o fotógrafo?
Senta à mesa na diagonal,
Abre o coração
Tira a câmera da bolsa
e o dedo vai no bot...

Casal em Paris 1968

Gare St Lazare Paris 1932



No dia de Railowisky
as sombras ficam dadas a se soltar
É que lua nesse dia vem pra perto da terra
Confundindo a gravidade
e deixa as pessoas um pouco mais leves
Sim, causando furtivas flutuações 
Foi num desses instantes,
Que no ano passado um moço deu um pulo,
Um pulinho baixo, rápido
Mas sua sombra se soltou
Não houve conversa que convencesse a sombra de voltar ao seu dono
Ela aprendeu a nadar e vive num lago ali em Paris
Dizem que anda apaixonada por uma estudante
E o moço, dizem que anda bem.

Gare St Lazare Paris 1932

Bruna, Carlos e Claudio

Existência

Mayakovsky e sua nuvem de calças

O Perdão 

O perfume

O Silêncio

Sobre



Casal em Paris       
            Um casal se encontra num café charmoso de Paris. O cheiro do café convida quem passa na calçada. Ela de blusa branca com listras pretas – o que não é o mesmo que uma blusa listrada. Chapéu preto, cinto, calça e bota. Faz menos calor que frio. Ele de blusa mais ou menos preta, um cabelo de meia hora de pente, gel, um sapato mais ou menos preto, meias brancas e uma cadela. Chantall, aquisição recente. Ela chega primeiro e espera. Ele chega depois com Chantall. Se desculpa pelo atraso. Diz que demorou no cabelo. Vaidoso. Ela diz que por isso usa a touca. Seus lábios se tocam. Um beijo de alguns segundos. O que é o tempo? Para aqueles que se amam, bons momentos se congelam na eternidade.


Gare Saint-Lazare
            Era uma tarde de terça. 18:00. Fazia um frio estranho. Nem de botar casaco e nem de botar blusa. Eu estava de blusa. Saí para fumar na porta. Liberei meus funcionários. Terça é dia de contabilidade. Tinha chovido. Rua alagada. Alguns objetos caídos. Gente correndo para casa. Um homem me chamou a atenção. Nunca o tinha visto antes. Ele não corria, nem caminhava. Algo entre as duas coisas. Ele trotava. Estranho, muito estranho. Ele não estava molhado, nem seco. Que homem paradoxal. Eu não sabia mesmo quem ele era, mas ao mesmo tempo tive a impressão de conhecê-lo de algum lugar. Ele vinha trotando pelas poças, passava perto da minha loja. Numa determinada poça, ele deu uma espécie de salto, mas me deixou confuso. Parecia um passo, mas era um salto. Ou era um salto e parecia um passo. Se eu congelasse aquele momento, talvez sanasse minha dúvida. Suijeito estranho esse. Nunca me esquecerei dele. Nunca saberei se ele saltou a poça, ou deu um passo longo. Nunca mais o vi depois disso.

Guilherme Conde e João Pedro Coppelli

o silêncio


o perfume

a existência

o perdão

o sobre

a nuvem de calças [ou a questão da poesia]



casal em Paris

aqui em baixo
o cheiro é
de cio
mas a visão é
de “tão fazendo merda
esse é


o lado errado”

Anderson Andrade e Silvia Paes

Parte 1

O Fotógrafo - Manoel de Barros

O silêncio carregador


O perfume no beiral


O sol que grita. A energia da existência...


O azul perdão


A paisagem a desabar. Sobre


A nuvem de calça


Parte 2


Fotos de Henri Cartier Bresson

Gare Saint-Lazare (1932)

Passou, passou por um segundo
Numa pressa, não sei qual nem porquê
Passou, rápido como um raio
Mas assim que tocou o chão
Tocou toda aquela imensidão
E aquele corte no espaço foi alterado
Com um toque, um passo
Suas ondas alteraram o espaço

Passou, passou, mudou e alterou
Passou, se foi, sumiu, agora já esqueci


Casal em Paris (1968)

Sentados, olhando, sorrindo
Sorrindo sentados a olhar
Um nos olhos do outro
Olhares que não se pode negar

Nervosos, gostando, sentindo
E até o pequeno cachorro
Que há pouco estava latindo
Parou para observar

No ímpeto, beijando, mas logo partindo
A vida acontece rápido demais
Logo que vem já está indo
E um infinito num instante se faz




Felipe Pontes

 Difícil fotografar o  silêncio

Aldeia Morta

Ninguém passava entre as casas

Ia o silêncio 
________________________________________________________


Estive em Paris
Não! Eu não viajei
A não ser pela foto
De um momento

Por Henri Cartier
A imagem me levou
A ver na decisão
A ousadia da escolha

Na estação Saint Lazare
A sombra salta sob
A agua sem se molhar

Em um café típico
Um casal, um cachorro
Um beijo capturado

terça-feira, 17 de março de 2015

Daniela Araújo e Marco Antonio Silva

Silêncio / Carregador

























Perdão

























Sobre

























Gare de Saint-Lazare (1932)

Naquele instante tudo era luz,
Mesmo sem saber o que havia sob a superfície, eu arrisquei,
Não é todo dia que se pode dar um salto como esse,
Guardo a ousadia na gaveta, na memória e na cicatriz.



Casal em Paris (1968)

“Como ele está?”
“Não sai da cama. Não quer brincar. Tá estranho.”
“É verme. Será?”
“Não. Não tem cheiro de doença isso. Talvez tenha a ver com ela.”
“Ela tem vindo?”
“Não. Já faz algum tempo... Não consigo mais cheirá-la direito. Deve estar bem longe daqui.”
“Não entendo...”
“Estava pensando outro dia, vendo o jeito que ele anda em casa. Sabe aquilo que faz a gente balançar o rabo? Então, acho que tem a ver com a falta disso.”
“Ela fazia ele balançar o rabo?”
“Sim, fazia.”
“Minha dona fala sempre sobre isso. Ela usa um nomezinho... Amor.”
“O que ela diz?”
“Bom, ela fala como se fosse doença. Sempre reclama que dói.”
“Mas, não dói quando balançamos o rabo.”
“Acho que eles sentem diferente. Pensam demais.”
“Será que ele tá doente de amor?”
“Deve ser.”
“Por que ele não vai atrás dela? O cheiro tá longe, mas ainda dá para alcançá-la.”
“Não sei. Talvez sejam covardes por pensar. Ter amor e não ter amor, acho que tudo dói pra eles.”
 “São confusos isso sim! Mas, gosto deles sabe... Me mata vê-lo desse jeito.”
“Tem barulho aí.”
“Ele acordou. Vou tentar brincar. Talvez lambendo isso passe.”
“Boa sorte!”
“Tchau 
           au
              au ”



Carolina Vik e Sara Sabino

                                                      Parte I

                                                       Silêncio 




Perfume




 Existência 





Azul-perdão





Sobre







Nuvem de calça





Parte II

Cartier Bresson - Casal em Paris (1968)


      Ultimamente, a única coisa que estava intimamente ligada a minha boca era o cigarro, até aquela quarta-feira.
     Primeiramente, faço questão de me apresentar. Trabalho nas ruas, nas de Paris para ser mais exato (ou caso seja tão curioso quanto eu). Não tenho casa própria, minha autobiografia é tão interessante quanto uma lista de compras colada na porta da geladeira, fumo e me chamo Amor. Sim, isso mesmo, A-M-O-R, com A maiúsculo.
    Dispensando mais detalhes sobre mim - a partir de agora vulgarmente conhecido como narrador - irei contar o que me aconteceu. 
    Após o horário de almoço decidi, deliberadamente, tomar um café - algo que não tenho costume de fazer. Enquanto procurava um local adequado para sanar minha necessidade de cafeína, uma bela mulher - dona de um cachorro aparentemente sem raça definida, calças jeans, blusa listrada de manga, cinto totalmente desnecessário por cima da mesma - caso permita-me opinar - e rosto meio quadrado, nesta ordem - desviou seu olhar por um breve segundo até os meus e voltou ao seu capuccino.
     Era impossível não notar a existência daqueles olhos cor de café. Tão escuros, hipnotizantes e profundos que não havia como ver o que estava se passando ali por trás, e justamente por isso tinha certeza de que havia algo lá. E mesmo comprometido, não pude deixar de me sentar.
     Três cafés, vinte e sete minutos e eu me via mudando o assunto da conversa só pra poder dizer seu nome em voz alta. Quando me dei conta, em apenas um toque, nossos olhos se encontraram e se perderam. E então, da mesma forma intempestiva que cheguei, peguei meu paletó, repousei o cigarro sobre minha boca agora sorridente e fui.








Cartier Bresson - Gare Saint-Lazare (1932)



  
    Sua rotina, quase sempre a mesma, o impedia de realizar simples desejos. Trabalho, desejo e amor. Três palavras que nunca - ou quase nunca- poderia ser escritas juntas. Já não se permitia pensar nela, mas quem disse que não doía? O fim sempre doí... Aquela hora amarga do dia sempre existia.
As ocupações em uma grande cidade, poderia ser a causa – ou quem sabe a desculpa. Ironicamente na cidade do amor.
Duas horas da manhã, essa foi a hora do fim! O fim... do desespero, da agonia. Ali estava, divido entre a escada e a poça, entre o seco e molhado. Travado entre o querer e o poder...


...e pulou.